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Traumas segundo Freud, Lacan e Ferenczi.

Atualizado: 22 de set. de 2024



TRAUMAS E SUAS CONSEQUÊNCIAS A PARTIR DE FREUD, FERENCZI E LACAN

Por Leci Catarina Capaverde


RESUMO


Este trabalho tem por objetivo analisar as contribuiçÔes de Sigmund Freud, SĂĄndor Ferenczi e Jacques Lacan sobre o trauma em psicanĂĄlise, apresentar as principais caracterĂ­sticas de cada abordagem teĂłrica. Nas fases de construção teĂłrica freudiana, as conceituaçÔes sobre trauma sofreram mudanças, desde a neurose atĂ© a Ășltima teoria de angĂșstia postulada por Freud em 1926. Em Ferenczi, hĂĄ dois enfoques: no primeiro, os traumas sĂŁo estruturantes e necessĂĄrios; no segundo, os traumas colocam em risco a identificação do sujeito, isto quer dizer que o trauma depende de uma falha na relação entre o sujeito e o outro. Para Ferenczi, o trauma Ă© resultado da ação de um outro sobre o sujeito traumatizado. JĂĄ em Lacan, o trauma Ă© visto como a entrada do sujeito no mundo simbĂłlico, ou seja, um constitutivo da subjetividade. Assim, o presente trabalho se complementa apĂłs o destaque das ideias fundamentais de cada um desses teĂłricos.

 

Palavras chaves: Psicanålise; Trauma; Constituição; Vida; Sujeito.

 

ABSTRACT


This work aims to analyze the contributions of Sigmund Freud, SĂĄndor Ferenczi and Jacques Lacan on trauma in psychoanalysis, presenting the main characteristics of each theoretical approach. In the phases of Freudian theoretical construction, conceptualizations about trauma underwent changes, from neurosis to the last theory of anguish by Freud at 1926. In Ferenczi, there are two approaches: in the first, traumas are structuring and necessary; in the second, traumas put the subject's identification at risk, this means that the trauma depends on a failure in the relationship between the subject and the other. For Ferenczi, o trauma is the result of someone else's action on the traumatized subject. In Lacan, trauma is seen as the subject's entry into the symbolic world, that is, a constituent of subjectivity. Thus, the present work complements itself after highlighting the fundamental ideas of each of these theorists.

 

Keywords: Psychoanalysis; Trauma; Constitution; Life; Subject.

 

 

 INTRODUÇÃO


A palavra trauma Ă© de etimologia grega que significa ferida. O trauma psicolĂłgico Ă© um tipo de sequela que pode prevalecer por um longo perĂ­odo apĂłs alguĂ©m viver uma experiĂȘncia negativa ou angustiante em que os pensamentos e sentimentos sĂŁo afetados e o comportamento da pessoa traumatizada passa por modificaçÔes, sendo visĂ­vel a exaustĂŁo, a paranoia, a irritação, os medos, entre outros.

       As primeiras definiçÔes de trauma surgem na metade do sĂ©culo XIX, no contexto da Revolução Industrial, referindo-se aos traumatismos sofridos pelos trabalhadores nas estradas de ferro e nos acidentes de trabalho. Trauma fazia alusĂŁo ao traumatismo, ao trauma fĂ­sico no corpo orgĂąnico, no contexto das urgĂȘncias de tratamento nos hospitais, relacionado Ă  clĂ­nica de ortopedia.

Freud começa suas pesquisas a partir da clínica da histeria, em que a causa da doença não é um traumatismo no sentido de um dano físico, mas um afeto do susto que provocou o trauma. Posteriormente, descreve o trauma no contexto da guerra, desenvolvendo o conceito de neurose traumåtica e de guerra.

            Trauma tambĂ©m pode ser uma resposta emocional Ă s experiĂȘncias perturbadoras que afastam a sensação de segurança de um indivĂ­duo. Muitos eventos que resultam no trauma sĂŁo imprevisĂ­veis, repentinos e incluem ameaças Ă  vida, acontecimentos fora do controle da pessoa. Todo tipo de situação que deixa a pessoa vulnerĂĄvel, isolada ou sobrecarregada podem causar trauma, mesmo que nĂŁo ocorra dano fĂ­sico. Um mesmo evento traumĂĄtico pode ter efeitos diferentes, dependendo de quem o tenha vivenciado, sendo que as pessoas com a saĂșde mental mais fragilizada podem apresentar reaçÔes piores ao trauma.

             Os chamados casos-limites, muito estudados por Ferenczi e frequentes na clínica atual, nos trazem diferentes concepçÔes sobre o desenvolvimento psíquico e sobre a natureza do trauma.

            O trauma Ă© o acontecimento que ficou retido na memĂłria do corpo, sem ter a lembrança, estando alĂ©m do inconsciente, em um tempo irrepresentĂĄvel, ou seja, a experiĂȘncia do traumĂĄtico torna-se uma experiĂȘncia do impossĂ­vel de ser apreendido pelo sujeito.

            Para a psicanĂĄlise, o trauma refere-se Ă quilo que chega ao sujeito de fora dele, se mostra na obra de Freud, em suas elaboraçÔes sobre as neuroses. Na obra de Lacan, este conceito Ă© retomado para alĂ©m da etiologia das neuroses, articulado ao real: trauma como impossibilidade, incompreensĂŁo, incapacidade do sujeito de articular alguma experiĂȘncia. O trauma Ă© um conceito fundamental na obra de Freud e Lacan, e pode ser considerado como um elemento que funda o sujeito.

Considerando que o trauma funda o sujeito como dependente da linguagem, Ă© possĂ­vel dizer que nĂŁo haveria trauma sem a entrada na linguagem. O termo trauma aparece na obra de Freud, desde os textos prĂ©-psicanalĂ­ticos, referindo-se ao que ele nomeou como afetos estrangulados, isto Ă©, conteĂșdos inconscientes que produzem angĂșstia e mal-estar no sujeito neurĂłtico, atravĂ©s dos sintomas.

          Na concepção de Ferenczi, o trauma sempre foi um aspecto central de suas teorizaçÔes, tendo em vista que a constituição psíquica se realiza por acontecimentos traumåticos catastróficos, produzindo clivagens psíquicas e a interminåvel repetição de marcas traumåticas. Lembranças do que foi vivido pelos testemunhos autobiogråficos podem provocar o retorno de afetos recalcados, tornando-se uma ameaça fatal à integridade psíquica de quem vivenciou para testemunhar e impedir que algo semelhante possa se repetir.

       Ferenczi foi o primeiro em questionar os limites da palavra e da eficĂĄcia da interpretação com aqueles pacientes que regridem ao infantil, que sĂŁo “sensĂ­veis Ă  benevolĂȘncia materna”. Ele deu ĂȘnfase no manejo do setting em lugar de interpretação, articulando de forma explĂ­cita o setting analĂ­tico e os cuidados ambientais primitivos.

Em psicanĂĄlise, o conceito de trauma estĂĄ mais no sujeito que no acontecimento em si, assim, sĂł pode ser localizado a posteriori, retroativamente. Por isso, faz-se importante enfatizar que o trauma nĂŁo se localiza no evento que supĂ”e traumĂĄtico, mas na forma como o acontecimento afeta o sujeito, deixando uma espĂ©cie de ferida que pode romper a interação desse indivĂ­duo com a sociedade, consequentemente, levando-o a um desajuste nas formas de fazer e de compreender os fatos. O conceito de trauma em psicanĂĄlise mostra-se importante para a constituição do sujeito. A compreensĂŁo em Lacan sobre o trauma volta-se tanto para o excesso como para o “buraco”.

O presente trabalho tem o objetivo de investigar os danos emocionais causados pelos traumas na formação e na vida do sujeito, ou melhor, o que o trauma pode causar na constituição e na vida do sujeito?

 

 REVISÃO DA LITERATURA

 

           O presente artigo investiga de que forma o entendimento do trauma como conceito psicanalĂ­tico pode influenciar nas diferentes reaçÔes dos indivĂ­duos a eventos traumĂĄticos, como traumas infantis, violĂȘncias, tragĂ©dias ou catĂĄstrofes ambientais, tanto individuais, como no coletivo.

O mecanismo que dĂĄ origem ao inconsciente e define a neurose foi chamado por Freud de recalque, processo no qual algo insuportĂĄvel como a castração Ă© afastado da consciĂȘncia e conduzido para o inconsciente, onde os afetos ficarĂŁo intocĂĄveis. Os atos falhos e lapsos sĂŁo responsĂĄveis pelas manifestaçÔes dos sintomas na consciĂȘncia.

Os estudos de Sigmund Freud sobre as neuroses, principalmente o caso Emma, levaram Ă  compreensĂŁo do trauma em dois tempos, mas, somente com o segundo tempo que, retroativamente, a primeira cena ou o primeiro tempo ganha o efeito traumĂĄtico. Emma, uma jovem que nĂŁo conseguia entrar sozinha em lojas apĂłs um episĂłdio que ocorreu quando tinha 12 anos, no qual percebeu que os vendedores de uma loja riam dela, o que fez com que ela corresse do local. Em anĂĄlise, Emma oportunizou duas possiblidades de interpretação: ou eles riam de seu vestido ou estavam interessados sexualmente nela. Qualquer uma dessas possibilidades lhe causavam muito horror. Com a evolução de suas elaboraçÔes atravĂ©s do tratamento analĂ­tico, ela pode descobrir que esta foi a segunda cena e que a primeira havia sido recalcada. A cena primĂĄria aconteceu aos seus oito anos quando o padeiro apalpou seu corpo, quando ela ainda nĂŁo tinha capacidade para interpretar tal acontecimento. Outra descoberta que Emma conseguiu fazer, durante seu tratamento, foi que na segunda cena, o interesse sexual era seu, por um dos vendedores e a recusa de tal desejo fez com que ela revivesse a experiĂȘncia traumĂĄtica da primeira cena como uma espĂ©cie de punição. (Freud, 1895/1996).

        A partir dessa constatação de Freud, Ă© possĂ­vel compreender que a estrutura do trauma Ă© composta por duas cenas: uma primeira cena infantil, que nĂŁo Ă© percebida no momento em que acontece, e uma segunda cena, diferente da primeira, que pode ocorrer a qualquer instante da vida do sujeito e que tem o efeito de se enlaçar aos afetos da primeira cena, causando o trauma. É possĂ­vel que, por trĂĄs da primeira cena traumĂĄtica, oculte-se a lembrança de uma segunda cena que satisfaça melhor e cuja reprodução faça maior efeito terapĂȘutico, de maneira que a cena descoberta em primeiro lugar tenha apenas a importĂąncia de um elo de ligação na cadeia de associaçÔes (Freud, 1895/1996, p. 193). O traumĂĄtico passa, na segunda tĂłpica freudiana, a ser associado Ă s dinĂąmicas da pulsĂŁo de morte e da angĂșstia automĂĄtica, aquela que faz continuamente uma demanda de trabalho psĂ­quico, mais especificamente de ligação, como primeira medida de contenção anterior Ă  instauração do princĂ­pio do prazer. Quando nĂŁo acontece ligação e transição do acontecimento, seus efeitos se apresentam de maneira negativa como danos narcĂ­sicos. Ademais:

“Um trauma na infĂąncia pode ser imediatamente seguido por um desencadeamento neurĂłtico, uma neurose infantil, com uma abundĂąncia de esforços de defesa, e acompanhada pela formação de sintomas. Essa neurose pode durar um tempo considerĂĄvel e provocar perturbaçÔes acentuadas, mas pode tambĂ©m seguir um curso latente e nĂŁo ser notada” (Freud, 1975 [1939 [1934- 1938]], p.96)

             Segundo Freud, no que concerne as características comuns dos fenÎmenos neuróticos, os efeitos do trauma são de dois tipos, positivos e negativos. Os efeitos positivos do trauma decorrem da fixação e da compulsão à repetição, enquanto uma tentativa de colocar o trauma em funcionamento mais uma vez. Eles podem se integrar ao eu com a condição de que sua origem histórica permaneça esquecida.  Por outro lado, os efeitos negativos do trauma pretendem fins diferentes, nem recordando, nem repetindo o trauma esquecido. São reaçÔes defensivas tais como as evitaçÔes que podem se intensificar em inibiçÔes e fobias.

Para Lacan (1955-1956/1988), o trauma estĂĄ intimamente relacionado Ă  linguagem. A linguagem Ă© o resultado da fantasia fundamental ou da relação da criança com seus pais que precisam interpretar as demandas do bebĂȘ para atendĂȘ-las ou nĂŁo. Aquele que tomar para si a tarefa de interpretar essas demandas, ocuparĂĄ a função materna. O bebĂȘ percebe a mĂŁe como uma extensĂŁo de si, mas essa mĂŁe estĂĄ envolvida com outras relaçÔes e, tambĂ©m, necessita atender suas prĂłprias demandas e de outros, alĂ©m do bebĂȘ, assim, ele percebe a ausĂȘncia da mĂŁe. A mĂŁe se faz presente ao atender as demandas e se faz ausente ao recusĂĄ-las. AlĂ©m da função materna, o bebĂȘ serĂĄ atendido pela função paterna, que farĂĄ o corte entre o filho e a mĂŁe, fazendo com que o bebĂȘ perceba que ele e a mĂŁe sĂŁo dois indivĂ­duos separados e diferentes. Essa mĂŁe nĂŁo estando sempre ali para atender ao bebĂȘ, farĂĄ com que ele comece a direcionar suas demandas para alĂ©m da mĂŁe, atravĂ©s da linguagem que serĂĄ a forma de transmissĂŁo simbĂłlica da lei que vem do pai, primeiro Outro da criança. Assim, Ă© a partir do reconhecimento da linguagem da criança pelos pais, que essa criança se reconhece como sujeito, capaz de construir sua singularidade na sua interação com o Outro e com a cultura. Segundo Lacan, o verdadeiro trauma do sujeito Ă© a existĂȘncia da linguagem, Ă© a dependĂȘncia do sujeito ao significante, ou seja, o trauma Ă© a entrada no meio significante.

“NĂŁo Ă© trauma, simplesmente, aquilo que fez irrupção num momento e abriu uma fenda em algum lugar, numa estrutura que se imagina total, jĂĄ que Ă© para isso que serviu para alguns a noção de narcisismo. O trauma Ă© que alguns acontecimentos venham se situar num certo lugar na estrutura. E, ocupando-o assumem aĂ­ o valor significante que a ele estĂĄ ligado num determinado sujeito. Eis o que faz o valor traumĂĄtico de um acontecimento” (Lacan,1961/1992).

            Na obra de Lacan, o trauma é entendido como aquilo em torno do qual o sujeito se constitui, não sendo um mero acidente que ocorre na vida desse indivíduo.

            Ferenczi refere-se ao trauma ligando-o aos principais pressupostos da neurose freudiana. Ele foi alĂ©m, a partir das descobertas que derivam do trabalho no campo transferencial, em que enfatiza a importĂąncia de levar em conta o lugar do psicanalista na cena de anĂĄlise. Associando a teoria da clĂ­nica Ă  cena traumĂĄtica, valorizou a alteridade na constituição do trauma, como resultado de uma ação de outra pessoa sobre o traumatizado, essa ação podendo vir da anĂĄlise. O mito do trauma ferencziano pode ser resumido assim: a criança, apĂłs ter sido violentada por um adulto, procura outro adulto em quem confia para contar o acontecido e esse segundo adulto a desmente.  Ferenczi afirma a capacidade de adaptação das crianças muito pequenas ao trauma, ressaltando a confusĂŁo traumĂĄtica como consequĂȘncia da reação ambiental, mais propriamente dos adultos em quem a criança confia. Segundo ele:

“A solidĂŁo traumĂĄtica, a interdição e a vontade de interdizer do pai, a surdez e a cegueira da mĂŁe, Ă© isso o que torna a agressĂŁo traumĂĄtica, isto Ă©, prĂłpria para fissurar o psiquismo. O ser que fica sĂł deve ajudar-se a si mesmo e, para esse efeito, clivar-se naquele que ajuda e naquele que Ă© ajudado.” (Ferenczi, 1932/1990, p. 240).

Em contraponto, tambĂ©m, em seu DiĂĄrio ClĂ­nico, Ferenczi (1932/1990) destaca o papel do objeto, do outro significativo, na manutenção da harmonia psĂ­quica. Ferenczi, assim como Winnicott prioriza em suas teorias um olhar sobre a relação objetal. Para ambos, jĂĄ existe uma subjetividade da vida intrauterina, experiĂȘncia de onipotĂȘncia em alto grau. Ao final deste trabalho serĂĄ enfatizado que o estudo sobre os caminhos do trauma em Freud, Ferenczi e Lacan nĂŁo pretendem esgotar a riqueza de seus pensamentos, mas, abrir novas vias de acesso Ă  transformação das teorias e das prĂĄticas psicanalĂ­ticas, o manejo da transferĂȘncia no processo de anĂĄlise, nos casos de neuroses traumĂĄticas e nas intervençÔes necessĂĄrias durante a terapia.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS


Este trabalho partiu de uma anålise das perspectivas dos psicanalistas Sigmund Freud, Såndor Ferenczi e Jacques Lacan sobre o trauma, para compreender o conceito de trauma em psicanålise e fazer uma avaliação de sua realidade na clínica psicanalítica.

Desde o final do sĂ©culo XIX, Freud situou a noção de trauma no campo psĂ­quico, atravĂ©s de trĂȘs significados: o de uma efração (ruptura), o de um choque violento e o de consequĂȘncias sobre o conjunto da organização. Ofereceu dois modelos de pensar o trauma, sem que um excluĂ­sse o outro: um modelo quantitativo (considerava que o aparelho psĂ­quico possuĂ­sse uma barreira contra os estĂ­mulos que determinassem uma quantidade excessiva de excitação, vindos do exterior, barreira que pudesse ser rompida por esses estĂ­mulos); o modelo temporal (definia o trauma em função da ausĂȘncia de preparação para o acontecimento traumĂĄtico). O deslocamento da quantidade de estĂ­mulos para o tempo em que ocorresse, priorizasse a importĂąncia do perĂ­odo de latĂȘncia entre no que marcava o corpo e o que atingia a mente. Essas duas definiçÔes de trauma (quantitativa e temporal), resguardam duas interpretaçÔes: uma associada Ă  teoria do recalque e ao retorno do recalcado (primeira tĂłpica freudiana); outra relacionada aos acidentes traumĂĄticos, aos sobreviventes de guerras e Ă s catĂĄstrofes naturais ou aquelas produzidas pela ação humana

Os modelos de trauma criados por Freud não se substituem, mas representam teorias sobre o mesmo problema. As suas elaboraçÔes seguem dois parùmetros: um que se refere ao traumatismo como um agente de desligamento pulsional e outro referente às sequelas causadas pelo traumatismo como fontes pulsionais secundårias.

O trauma deve ser compreendido na relação entre os processos psíquicos e os eventos internos e externos.

Essa virada teĂłrica teve o trauma como seu mĂłvel sendo que foram os sintomas que levaram Freud a fazer a maior revisĂŁo na teoria psicanalĂ­tica desde as suas origens.

Em Ferenczi, os estudos nos trazem o conhecimento de uma concepção do trauma em momentos precoces da constituição psíquica, antes da ação do recalque. O traumåtico é entendido como o lugar do irrepresentåvel, em que o trauma não coincide com o recalcado e com a fantasia, mas com a relação entre o traumåtico e o pulsional. Na clínica psicanalítica, esse pensamento remete às questÔes sobre as propostas dos modelos de tratamento, pois o trauma é compreendido como algo fora do modelo do recalque e fora do campo da representação.

O trauma é a via pela qual o real se inscreve na vida de cada pessoa. Lacan aborda no Seminårio 13 que o trauma é o choque, a fratura, o caroço, a pedra no caminho.

De acordo com este estudo, o trauma explica não apenas o movimento repetitivo encontrado na história do indivíduo, mas também na história coletiva.

Portanto, o trauma Ă© aquilo que vai de encontro ao real, causando um furo que confunde a compreensĂŁo do sujeito sobre si mesmo e sua subjetividade, nĂŁo conseguindo simbolizar atravĂ©s da linguagem. Algumas pessoas possuem recursos psĂ­quicos para lidar com as dificuldades, mas, na maioria, o trauma atravessa a vida do sujeito de forma descontrolada, causando intenso sofrimento. Com a terapia psicanalĂ­tica, ele consegue elaborar seu trauma com mais facilidade, identificando as vivĂȘncias que passou e as dores que sofreu, pois o setting psicanalĂ­tico Ă© um ambiente seguro e acolhedor, onde o analisando privacidade para a expressĂŁo livre de suas angĂșstias e de seus anseios.

 


DADOS BIBLIOGRÁFICOS


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CASTILHO, AntĂŽnio LuĂ­z Pereira de. Revisitando o primeiro modelo freudiano do trauma: sua composição, crise e horizonte de persistĂȘncia na teoria psicanalĂ­tica. (Rio J.), Rio de Janeiro, v.16, n.2, Dec.2013.

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LACAN, Jacques. O Objeto da Psicanålise. Seminårio 13. 1965-1966. Obras Completas para Download. PDF.

ROUDINESCO, Elisabeth e PLON, Michel. DicionĂĄrio de PsicanĂĄlise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.1998.

ZIMERMAN, David E. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica. Porto Alegre :Artmed, 1999.

 


SOBRE O AUTOR


Leci Catarina Flores Nunes Capaverde Ă© Professora e Psicanalista ClĂ­nica, em SupervisĂŁo pelo CETEP e pelo Instituto Vida e PsicanĂĄlise. É formaada em PsicanĂĄlise ClĂ­nica pela UNINTER e pelo CETEP. Email: lecicnv@hotmail.com.br


PARA CITAR ESTE ARTIGO

 

NUNES, Leci Catarina Flores Capaverde. Traumas e suas consequĂȘncias a partir de Freud, Lacan e Ferenczi. Capela de Santana: Instituto Vida e PsicanĂĄlise, 15 de setembro de 2024.

 

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