Por Fábio Pereira
Desde meus primeiros anos, vivo num berço familiar onde a arte se tornou centro de atenção permanente. Sou um exemplo vivo do que a Arte, com suas múltiplas formas de expressão, é capaz de fazer por uma pessoa. A primeira das artes a que fui ludicamente apresentado foi a música, esse campo amplo, magicamente mesclado de matemática, exata por si só, feita de infinitudes e subjetividade transmitidas através de harmonias e dissonâncias.
Minha mãe, sempre comigo no colo, cantava; e isso me fez muito bem! Já na infância, minha audição era capaz de traduzir a rítmica criativa. Passei a estreitar laços didáticos e era algo que não exigia nada além de entrega. Entendi desde o primeiro momento que era “antena” passível de construção e de transformação. Aceitei o desafio com energia: revelava-se em mim a face do compositor. Surgia um mundo de novidades e eu empunhava a batuta do futuro nas mãos
"Pude constatar que a subjetividade não é inferior a todos os pressupostos concretos e palpáveis preconizados por uma sociedade que exige 'diploma de cidadão normal' – esse que vai de encontro à constelação particular de muitos artistas sensitivos"
Surpreso, mergulhei no mar da criação. Nutri vôos, alguns de forma automática e involuntária. O terreno da invenção é a minha bússola, meu QR CODE (ou impressão digital, para os mais antigos). Trabalhar com composição é algo novo todos os dias. Gosto de capturar o inefável, de fabricar com a mente e apresentar o resultado da metamorfose em formato de produto mercadológico e vendável. O abismo que separa a alma da arte do corpo do produto cultural é imenso e assustador, mas imprime em mim certo orgulho, pois sei que sou auto-sustentável.
Pude constatar que a subjetividade não é inferior a todos os pressupostos concretos e palpáveis preconizados por uma sociedade que exige “diploma de cidadão normal” – esse que vai de encontro à constelação particular de muitos artistas sensitivos. Tive sorte, pois gozei o conforto de escrever o roteiro de meu próprio caminho, no qual a vida se fundiu com a arte e deu à luz uma nova estrada que hoje percorro e que, sempre imprevisível, me transforma a cada quilômetro.
Vejo a arte como uma via de autoconhecimento, de imersão num potencial nunca antes explorado, onde benefícios inúmeros são distribuídos entre os que na arte trabalham e seus espectadores. Jamais saí ileso de uma apresentação musical, teatral, de dança clássica ou contemporânea, fosse como trabalhador ou espectador, porque a arte é sempre uma incógnita”
SOBRE O AUTOR:
Fábio Pereira tem 44 anos, é músico, arte-educador, ator e produtor cultural.
Contato: clicksoud@hotmail.com
PARA CITAR ESTE ARTIGO:
PEREIRA, Fábio. ARTE: UMA VIA DE CONHECIMENTO. Capela de Santana: Revista Vida e Psicanálise. N2, Jan-Jul, 2023.
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